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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Oldboy (Dias de Vingança) 2013 - Remake norte-americano, de um filme coreano, e com qualidade paraguaia

Originalmente publicado por Lucas Tejada em: 

http://orratejada.blogspot.com.br/2014/04/oldboy-dias-de-vinganca-2013-remake.html 

Segue transcrição:
Sinopse do filme: Oldboy segue a história de um executivo (Josh Brolin) que é sequestrado e mantido em cativeiro por 20 anos sem ter qualquer indicação dos motivos do seu sequestrador. Quando ele é inexplicavelmente solto, embarca em uma missão obsessiva para descobrir quem orquestrou o seu bizarro e torturante castigo, apenas para descobrir que ainda está preso em uma teia de conspiração e tormento. A sua busca por vingança o leva a um infeliz relacionamento com uma jovem assistente social (Elizabeth Olsen) e finalmente a um homem misterioso (Sharlto Copley) que alega ter a chave para a sua salvação.
Fonte: http://www.cineplayers.com/filme/oldboy--dias-de-vinganca/14816 (acessado em 07/04/2014 às 21h19min)

pôster do remake
Como Conheci: Tive contato com referências do filme coreano já há muito tempo, quando do auge da fase  "nerd" em minha adolescência, porém nunca o havia assistido de fato. Apenas fui formalmente apresentado a obra através do meu bom amigo Jairo, que sentou do meu lado e viu comigo a obra de Chan-Wook Park em uma madrugada  bem agradável. Depois disso procurei o mangá (que infelizmente não consegui terminar de ler), e fiquei encantado tanto com o filme, quanto com sua versão desenhada. Quando fiquei sabendo que fariam um remake, fiquei sentindo um misto de curiosidade e receio. Meu segundo instinto estava certo.
Cena icônica do filme coreano de Oldboy
Resenha: Há um bom tempo rolava na internet um boato de que Will Smith incorporaria o protagonista Oh Dae-Su, em um possível remake de Oldboy, porém os anos passaram e eu sempre achei que isso seria uma piada ou especulação, tão crível quanto a própria possibilidade de fazerem uma versão americana da película de 2003.
 
Quando em idos do ano passado eu trombei com a notícia de que um remake estava realmente em produção (mas sem Will Smith), fiquei bem surpreso, mas também como já dito, receoso de que fosse apenas mais um blockbuster usando um nome de peso, feito apenas para arrecadar dinheiro. Quando os trailers começaram a sair, até acreditei que tinha queimado a língua, o filme parecia bem feito, uma história relativamente diferente do filme coreano, mas com aparente qualidade. Fiquei bastante empolgado, e até ansioso para assistir a película e tecer uma resenha metendo o pau em quem não gosta de remakes ou reboots, e faz pré-julgamento dessas obras. Não só não farei isso, como também vou tomar um forcado e uma tocha em minhas mãos e me juntar aos demais odiadores. Que filme horroroso!

Primeiramente, friso que não vou fazer injustas comparações usando a obra coreana como unidade de medida para se aferir a qualidade do remake. Seria injusto e desproporcional. Vou tentar (se minha desilusão permitir) analisar a obra pelo o que ela me foi apresentada.

Eu já disse, repito e reafirmo sempre que posso, que sou um amante incondicional dos chavões, finais felizes e clichês. Acho-os divertidos, considero-os um escapismo saudável da realidade crua e triste em que vivemos, porém tudo tem um limite.

Esta versão de 2013 de Oldboy começa engatilhando um velho chavão hollywoodiano em que um personagem com péssimo caráter, mesquinho e egoísta passa por um processo doloroso e sacrificante, expiando suas culpas, caindo em redenção e então tornando-se um ser humano melhor. A idéia do filme até que é boa, que soma esse elemento a realidade do homem médio (preguiçoso, egoísta e ganancioso) sendo confrontado de forma quase que cármica pelos seus pecados, isso, apesar de já bem batido, é uma fórmula de sucesso de bilheteria para o grande público ocidental, o grande problema é a execução do filme, que beira o ridículo.

Por mais de uma vez, é perceptível durante o filme, que a ideia principal não era fazer uma releitura da obra coreana, ou uma nova construção em cima dela, mas sim uma tentativa frustrada e mal feita de ser o filme original. As lutas, tão bem coreografadas, marca registrada da obra original, são imitadas de forma pobre e artificial, espirrando sangue digital na cara do telespectador. A dramaticidade e agonia causados por cenas extremamente pontuais de tortura ou relação interpessoal dos personagens, muito bem utilizados no clássico de 2003, são substituídas por uma falsa seriedade da trama, e pelo nonsense de Samuel L. Jackson (que caiu de para-quedas na história), interpretando um personagem genérico e excêntrico, como acontece em quase todos os seus filmes recentes.

O filme tem uma fluidez forçosa e também artificial, tudo ocorre muito rápido, muito fugaz, o que esgota qualquer chance de se criar um clima (sim, um clima, filmes também podem tem isso) propício a abraçar o mistério e os enigmas propostos pela própria história.

Entrando nessa idéia, o mistério e o segredo envolvendo a enclausuramento do protagonista,  que são basicamente a chave do plot da película, são relembrados ao espectador constantemente, como se o roteiro considerasse que o público não consegue guardar a informação durante o filme. Isso só aumenta a sensação de algo forçado e mastigado. Estragando qualquer tentativa de se cultivar algum sentimento de apreensão  ou dramaticidade naquele que assiste ao filme.

O "vilão" apresentado, é muito mal explorado e executado. A atuação parece saída de um filme do Austin Powers, a eloquência é bem semelhante a um antagonista de filme antigo do James Bond, um verdadeiro pastelão, parecendo até que fora feito assim de propósito. Digo que fora também mal executado, pois todo o enigma que envolve seus motivos para prender Joe (o protagonista) são muito ricos e profundos, nisso eu tenho que dar o braço a torcer. No final do filme, quando tudo vem as claras, há uma reviravolta muito boa, eu mesmo fiquei surpreso, esperando como seria feito, pois logo nos primeiros minutos de filme, eles descartam a premissa de plot do filme de original.

Joe, o protagonista, mostra-se quase que apático em muitas situações, em uma tentativa de parecer frio ou controlado, como Oh Dae-Su na película oriental era. Quando há rompantes que exigiriam forte demonstração de emoção na cena, o ator (Josh Brolin), tenta o mais que pode acompanhar o ritmo, mas não o faz muito bem, dando apenas duas opções de comportamento ao personagem: Bêbado ou brigão. Mesmo quando a cena demanda uma emoção diversa, ele atua parecendo o bêbado, mas com ânimo de brigão, sempre atento, sempre vigoroso (me lembrando em alguns momentos os filmes de Jason Statham). Não sendo lá muito convincente, e ineficaz para um filme com uma trama tão densa.

Apesar das boas intenções, e de uma construção até louvável de roteiro (inclusive me surpreendendo com o plot final bem bacana, diga-se de passagem), o filme peca em sua execução. O timing é desconexo, as cenas ocorrem apressadamente, talvez com o ânimo de não "entediar" o seu público alvo, a coreografia é horrenda por ser puramente mal feita e artificial, e a atuação dos personagens é bem mediana, sem qualquer expressão ou emoção, o que basicamente deveria ser a essência do filme.

Oldboy (o de 2003), apesar de possuir um culto bem grande pela comunidade dita nerd, não é um filme cult ou "cabeça", cheio de rococós para você filosofar e discutir no seu círculo intelectualóide. É um excelente filme, bem feito e bem executado (porém, isso é tema para a resenha do filme original). Digo isso para que não se pense que estou criticando o filme de 2013 por meramente ser um remake (de má qualidade), mas o faço pelo simples fato do filme de Spike Lee ser verdadeiramente sem graça, ruim.

Em resumo, pegaram um boneco do Comandos em Ação, arrancaram sua cabeça, e tentaram colocar a de uma Barbie no lugar. É um roteiro delicado e com certa qualidade, em uma estrutura abrutalhada, e atrapalhada. Isso é o Oldboy norte-americano, uma tentativa frustrada de ser outro filme.

Indico ou não indico: Indico se você quiser usar chamar sua paixonite para "ver um filme lá em casa" em um dia chuvoso, com segundas intenções. Afinal, você pode deixar o filme rolando, não prestar atenção, dar uns amassos, e ainda assim, no final você terá compreendido toda a história. Fora isso, não indico, ainda mais se você for um entusiasta do original coreano.
















O mangá de Old Boy é atualmente publicado no Brasil pela editora Nova Sampa

Um comentário:

  1. Como comentei lá no grupo do facebook, curti muito o texto do Lucas/Camus! Ficou muito bom. o/

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